PIRENÓPOLIS - FAZENDA BABILÔNIA

02/03/2017 11:15

Sempre adiando o retorno à Fazenda Babilônia, depois de 10 anos sem ir, resolvi preencher os dias de carnaval longe do 'vuco vuco' pirenopolino e saciar a minha gula no seu Café Sertanejo.  Acompanhado dos 'parentes gourmets' DJ, JV, BG e RT fomos conferir o 'brunch setanejo'.

Mas antes vou contar algumas coisinhas históricas do lugar .....

"A Fazenda Babilônia, construída em fins do século XVIII e tombada como Patrimônio Nacional, pelo IPHAN, e inscrita no Livro de Belas Artes, nº 480, em 1965, conserva o extenso casarão colonial e seus muros de pedras, construídos pelos escravos. A sustentação é feita em cima de grossos esteios e vigas de madeiras, com paredes de adobe e pau a pique, cujas madeiras chegam a medir 2 palmos de largura e atravessam vãos livres de cerca de 15 metros. O enorme telhado, coberto com telhas-coxa, é composto de caibros roliços de cerca de 20 cm de diâmetro, muito próximos uns dos outros, unidos por encaixes precisos e cavilhas de madeiras. O pouco metal utilizado é devido à carência e à dificuldade de importação ocasionada pela distância e o alto custo da longa viagem. Os pregos usados, principalmente nos assoalhos, são pregos quadrados, feitos manualmente em bigornas, e até as dobradiças das portas são em madeiras.

     

A casa segue um padrão conhecido como arquitetura colonial paulista, pois era comum durante o século XIX, as fazendas paulistas construírem casas deste estilo, que tem como característica mais marcante a sua distribuição espacial, que permitia ao senhor vigiar e controlar toda a fazenda de alguns poucos lugares estratégicos da casa. No caso da Fazenda Babilônia, da ampla varanda controlava-se toda a senzala e as edificações externas, e da sala de jantar, rebaixa e a moenda.

Destaca-se dentro desta grande construção, a capela, ainda toda original, localizada ao final da grande varanda, que acompanha toda a frente da casa. Dedicada a Nossa Senhora da Conceição e de pequenas dimensões, conserva o assoalho de madeira, os forros pintados com as imagens de São Joaquim e de Santana, emolduradas por elementos artísticos barrocos. O altar, estreito e ao fundo, é encimado por um pequeno nicho onde se encontra a imagem de Nossa Senhora da Conceição sobre um retábulo todo de madeira. Chama atenção os diversos espelhinhos redondos, correntes pintadas e meias-luas, provavelmente herança dos artistas escravos africanos.

A fazenda conta também com um pequeno museu com diversos objetos antigos, do tempo das mulas, das camas de tiras de couro e colchão de crina, quando se faziam velas de cera e as mulheres montavam em cilhões, carregando as tralhas em bruacas de couro duro." (texto extraído do site da propriedade - ver no final do post)

Quem comanda todo esse patrimônio é a atual proprietária Telma Lopes Machado que, junto com a sua competente equipe, nos conta diversas e belas histórias e a prosa se estende ...

Prepare-se, então, para o 'brunch' recheado por 'gordices' mineiras e goianas, ou como rotula a Telma: "Um resgate antropológico da culinária goiana que, aos finais de semana e feriados na extensa mesa acompanhada de uma bela vista da fazenda, é servida numa fartíssima refeição composta de mais de 40 itens, feita com produtos da própria fazenda resgatando receitas antigas, típicas de um Goiás rural e antigo. Não só alimenta como instrui."

Para acompanhar sucos de frutas da época e típicas da região, caldo de cana, leite, chá e café.

Assim que você se acomoda, as longas mesas já estão repletas de biscoitos de queijo e quebrador, bolos da senzala e de fubá de arroz, broas de fubá, trouxinhas da sinhá, brevidades, carne de porco na lata, cavacos de queijo, mané pelado, rosca doce, melado de cana, pamonhas assada e frita, pães caseiros de alho e de mandioca, pão de queijo, pau-a-pique, almôndegas, carne de redenho, matula de galinha, linguiça caipira, paçoca de carne seca, queijo frescal, requeijão, ricota temperada, virado de raspa, e por aí vai .... se você ficou cansado de ler, imagina ter que comer (ou provar) isso tudo!

Para não tornar enfadonha a leitura, vou comentar apenas alguns quitutes degustados e merecedores de comentários:

Começo pelas almôndegas que são fritas e guardadas na própria gordura; são utilizadas as carnes de vaca, de porco, e toucinho moído temperados com maestria e com um sabor suave e inigualável. Comeria várias bandejas acompanhadas de uma cerveja no estado de 'canela de pedreiro' (gelada).

Ao comer brevidade retornei à minha infância quando eram feitas pela minha avó Heloísa. A receita é típica da região do interior de Minas e de Goiás, sendo muito usada na época do Brasil Colônia. Feita com polvilho, ovos e açúcar.

Carne de porco 'na lata', guardada na banha e temperada com açafrão da terra, alho e pimenta bode. Como faço normalmente mas com outros temperos, apresenta um sabor diferente, ou mais simples. Utilizo muito para rechear pães de queijo e servir com molho tipo 'barbecue'. Delícia.

Carne de Redenho à Moda da Casa. Carne envolvida em redenho (ou crépine, em francês) e assada, com os seguintes ingredientes: carne de vaca moída, carne de porco moída, açafrão, pimenta bode, manjericão e redenho. Nada mais é do que uma espécie de 'rede' retirada da gordura da barriga de porco, muito utilizada na cozinha europeia, envolvendo especialmente os assados (coelho, codorna, bovina e porco, entre outros), para dar maior suculência à preparação sem deixar qualquer gosto. Na França usam para revestir as terrines antes de irem para o forno. Aqui em Brasília é difícil de encontrar ... simplesmente fantástica!

 

Linguiça caipira de porco preparada com cuidado e competência e temperadas com açafrão, alfavaca, pimenta bode, alho e sal. Bastante saborosas!

 

A matula de galinha, que não conhecia, é assada no borralho (são as cinzas quentes que ficam no fogão de lenha, depois de apagado o fogo, para quem não sabe). Espécie de comida muito usada pelos tropeiros por sua durabilidade, a exemplo da paçoca de carne seca. É feita com galinha caipira moída, toucinho moído, açafrão, pimenta bode, ovos, farinha de milho caseira.

A mesa elegeu o queijo frescal, tipo mineiro, como um dos favoritos pela sua leveza e sabor.

Mais um que não conhecia, mas adorei: o requeijão quente, típico goiano, feito no tacho de cobre, com coalhada azeda, creme da própria coalhada e sal.

Ficaria horas escrevendo sobre as delícias da Fazenda, mas não o faço pois quero que você dê um pulinho na encantadora Pirenópolis e vá conhecer a Fazenda Babilônia. Um lugar diferente para conhecer mais da nossa história e degustar uma autêntica e honesta comida goiana.

Fazenda Babilônia - GO 431 - Km 3 - Pirenópolis - Goiás - Tel.: 62.99294-1805 | 99291-1511 - Email: contato@fazendababilonia.com.br - https://www.facebook.com/FazendaBabilonia