ARGENTINA - PATAGÔNIA - USHUAIA

10/01/2018 08:02

Come-se muito bem no Fim do Mundo - o texto é do 'amigogourmet' Luiz Roberto Marinho em sua recente viagem ao mundo patagônico.

"Em comemoração aos 40 anos de casamento dos amigos JR e LP, fomos com o casal, eu e OG, conhecer a Patagônia argentina (existe a Patagônia chilena, ao lado). Começamos por Ushuaia, a capital da Terra do Fogo, 70 mil habitantes, a cidade mais ao sul da Terra (há quem conteste, citando uma cidadezinha do Chile), porta de entrada da Antártica. Os argentinos chamam-na, carinhosa e orgulhosamente, de El Fin de Mundo. Em pleno verão de dezembro, a temperatura oscila entre 5 e 10 graus, a noite só desce depois das 21h30 e o tempo pode mudar a cada 20 minutos.

Predominam nos cardápios da cidade o cordeiro patagônico, sempre macio, quase desmanchando na boca, e os frutos do mar. O cordeiro é assado só no sal e borrifado com uma mistura de água e alecrim para não ressecar. Com raras alterações, alternei os dois no almoço e no jantar durante os quase quatro dias em que nos quedamos em Ushuaia, com preferência, entre os frutos do mar, pela centolla.

Como sabem os leitores do competente blog, é um caranguejo gigante pescado com cestas a mais de 50 metros de profundidade – no caso de Ushuaia, no mar gelado do Canal de Beagle, que banha a cidade. JR, LP e OG brincavam comigo afirmando que eu nem precisava consultar os cardápios – ou cordeiro ou centolla ou centolla ou cordeiro, numa grande variação.

Não há restaurantes luxuosos, mas os seis aos quais conseguimos ir, independente das instalações, botam na mesa comida bem feita. Faltava um pouco mais de sal algumas vezes, mas acabei atribuindo tal escassez ou aos hábitos alimentares argentinos ou ao meu perigoso desrespeito aos graves riscos da pressão alta.

Dependendo da especialidade, estão nas vitrines, provocando as papilas do passante, o cordeiro espetado inteiro, em pé, no fogo, ou as centollas vivas em aquários.

 

Acompanhados por cerveja ou vinho preferencialmente patagônicos:

 

Comemoramos o reveillon na cena (jantar) do restaurante do Hotel Albatros, um dos melhores de Ushuaia.

Era um menu de quatro etapas. Depois de uma entrada de tentáculos de polvo, servidos no ponto, veio uma centolla processada com maçã verde, delicada

Nas proteínas, OG e LP optaram por uma merluza negra (usual nos cardápios locais de frutos do mar), servida em filés altos, de carne tenramente branca, em oposição ao nome. Acompanhava um molho suave de pimentões vermelhos.

Eu e JR fomos de cordeiro prensado, servido com purê de cenoura e molho ao vinho, devorado com huuums de satisfação

Se fôssemos detalhar todos os cardápios que experimentamos em Ushuaia, daria uma Bíblia. Selecionamos alguns em respeito ao elegante espaço do blog e à paciência dos seus milhares de leitores.

OG experimentou e aprovou com louvor o salmão do Pacífico servido no jantar do restaurante Christopher, ornado com broto de bambu, de sabor mais marcante do que o criado em cativeiro no Chile

Depois de ir de ojo de bife no almoço, do qual não gostou, por ter vindo cozido no Isabel Cocina del Disco, em vez de assado, JR optou no Christopher, à noite, por uma salada Caesar recheada de camarões. Elogiou, desta vez

Ao contrário do amigo JR, me saí bem no almoço do Isabel, cuja definição – Cocina del Disco – tinha me deixado intrigado desde a hora em que aportamos em Ushuaia. Que diacho será isso?, me perguntei várias vezes.

Descobri, indo lá, que o restaurante (popular, de cozinha caseira e preços módicos, no qual você escolhe o vinho pegando direto na adega) resgata a tradição de cozinhar em discos de arado sobre a parrila. Já tinha visto algo semelhante no Rio Grande do Sul, mas não fiz o link. Dividimos, OG e eu, porque os pratos são generosos no Isabel, o cordeiro à caçadora, tenro, como sempre

Indo a Ushuaia, não deixe de almoçar ou jantar no El Viejo Marino, cujo dono pesca e fornece centollas a outros restaurantes da cidade e resolveu, há dois anos, horizontalizar parte da produção, abrindo o seu. Quem optar pela centolla inteira, pode escolher a sua viva, no aquário. Ela vem fumegando logo depois e o garçom ensina, pacientemente, como triturá-la. É bem mais fácil – e mais recompensador, pela quantidade da carne - do que com nosso modesto (em tamanho proporcional) caranguejo.

As instalações do El Viejo Marino são despojadas, o salão é pequeno, mas o serviço é rápido. OG e eu dividimos, de novo, o prato, pela fartura. Apostamos numa mistura de frutos do mar salteados, todos no ponto certo, incluindo as muitas vieiras, de delicada cocção, como bem conhecem os leitores do blog

Ushuaia, enfim, é uma experiência riquíssima, tanto para o intelecto quanto para as papilas. Vale (muito) a pena conhecer."

Restaurante do Hotel Albratros – Av Maipu 505, fone 54 2901 43-7300

Christopher Grills & Beer- Av Maipu 828, fone 54 2901 42-5079

Isabel Cocina del Disco- Governador Pedro Godoy 15, fone 54 2901 43-2444

El Viejo Marino – Av Maipu 227, fone 54 2901 41-800