BRASÍLIA - LE PARISIEN BISTROT

26/11/2017 13:10

Os bons restaurantes franceses de Brasília se resumem a meia dúzia que se auto-intitulam como tal; mas ao ler os amigos gourmets AN (GPS) e RC (Gastronomix) me animei a conhecer o Le Parisien Bistrot, com apenas poucos meses de inaugurado.

E aí vem a pergunta: por que dois parisienses - Jerémy e Maxime - resolvem vir para o Brasil quando a grande maioria de brasileiros gostaria de estar na França? Vou pesquisar e leio que as brasileiras Ana e Noemy arrebataram os corações dos franceses e promoveram a vinda deles. Salve a mulher brasileira!

Contrataram, então, o chef Leandro Nunes formado pela Cordon Bleu, e estágio em diversos restaurantes, para uma consultoria inicial de elaboração de cardápio e treinamento do pessoal da cozinha.

Isto posto, partimos (eu e DJ) para lá para provar o que eles andam fazendo...

Apesar de estar meio escondido num canto da 103 norte, voltado para dentro da quadra, tenta ser bastante parisiense (se isso é possível, para uma loja!) com uma decoração bem simples, mas cheia de detalhes como o piso em ladrilhos pretos e brancos - que eu particularmente acho um charme, e algumas placas de ruas e adereços tradicionais da capital francesa. Como fica praticamente em frente ao Daniel Briand mentalizei que as 103/104 poderiam muito bem se tornar as quadras dos franceses em Brasília, com uma boulangerie, uma boucherie, os canards do Greger/Agnès Berthout, etc. Já pensou se não seria o máximo?

Deixando os sonhos de lado vou me concentrar no jantar.

O serviço é muito atencioso e competente - apesar do erro na troca de sobremesas. O restaurante estava lotado e, mesmo assim, os quatro atendentes deram conta do recado com o auxílio da dupla proprietária estar presente em todos os aspectos.

Começamos com um pastis e um kir royal; mas francês impossível! A mixologia está a cargo do Javier Balzan. Ao primeiro gole do pastis me teletransportei para uma calçada do Quartier Latin ....

Os tira-gostos merecem destaque e um retorno só para ficar neles: quiches, tábuas de queijos, vols au vent, terrines, tartines, canelone de escargot , além dos croques e dos pães da Castália. Além do menu fixo, a cada dia é eleito um prato de destaque como frango, linguiça, camarão, boeuf bourguignon, cassoulet e bouilabaise -  a França é contemplada de norte a sul!

Para iniciar escolhemos Gougères - massa choux com gruyère, recheado com creme de queijo.  Especialidade da Borgonha e do Franche Comté é difícil atestar uma data ou período para o seu 'descobrimento', mas alguns historiadores gastronômicos remetem ao final do século XIV, graças à influência de Catherine de Médicis. Alguns 'pensadores' brasileiros o comparam, a grosso modo, aos nossos pães de queijo, mas não vejo nenhuma relação a não ser a utilização de queijos - Gruyère ou Comté da versão francesa versus o queijo minas curado da versão tupiniquim.  Seja qual for a sua origem, o gougère ainda é uma verdadeira tradição da Borgonha. Mas uma coisa tenho certeza: eles têm que ser crocantes por fora e fofos no interior. No caso dos servidos no Le Parisien, em função da antecedência como são feitos não seguiram a regra ... 'Pas de problème'

DJ escolheu o Entrecôte com molho de pimenta verde e gratin dauphinois; Achou bom, 'mas já comeu melhores', de acordo com o seu testemunho. Apenas um detalhe: o verdadeiro gratin não leva queijo, segundo os puristas franceses.

Como era o prato que eu ia escolher, preferi apelar para o Côte de porc - bisteca suína com molho charcutière e batata salardaise (correto: sarladaise). O porco estava muito bem feito e saboroso. Já a batata sarladaise é um prato tradicional da região de Sarlat, e nós não estaríamos no país do Perigord se não adicionássemos belas fatias de trufas - mas isso é uma outra história pois estamos no Brasil. Também seria pedir muito que elas fossem fritas na gordura de pato, ou ganso. Não gostei do cozimento, alternando bem cozidas, ao ponto e mal cozidas. Finalmente: o molho Charcutière é um molho finalizado com cebola, mostarda, vinho branco e cornichons picados, cozido a fogo baixo em um demi-glace básico e não leva bacon. 'Pas de problem', também!

Não poderia deixar de pedir a Tarte Tatin de sobremesa, lembrando que a maçã verde, no lugar da maçã normal, adultera a receita original e não me agradou. O sorvete que a acompanhava estava excelente.

Para a DJ é uma felicidade quando tem a opção de pedir Profiteroles! São pequenos choux com um sorvete de creme no interior e uma calda de chocolate meio amargo QUENTE. Um grande clássico da gastronomia francesa, desde Rabelais - século XVI.

Como sou um apaixonado pela culinária francesa (- a melhor do mundo), os pequenos defeitos não invalidam a refeição de ontem; muito pelo contrário, me fazem voltar lá e provar os demais itens do cardápio e fingir que estou na França.

Um detalhe final para o Jerémy e Maxime (caso eles leiam este post): por que não incluem a maravilhosa música francesa no ambiente? Seria muito bom jantarmos ao som de Charles Aznavour, Serge Gainsbourg, Gilbert, Mireille Mathieu, etc ...

Vale a pena conhecer.

Le Parisien Bistrot - CLN 103 bloco B loja 2 - Telefone: (61) 3033.8426