BRASÍLIA - OCCITANO
Em tempos de crise está sendo muito difícil ir a restaurantes, mas a paixão pela gastronomia me deixa com saudades de comer bem.
Recebo um apelo do amigo gourmet LRM para ir ao Occitano verificar o trabalho do 'sous chef' Massayuki Kudo, que está de malas prontas para assumir os bastidores culinários de uma embaixada aqui em Brasília; aproveito a oportunidade para checar o trabalho da chef Camila Figueiredo, com formação internacional e apaixonada pelo que faz. É sempre bom lembrar que não basta ter um diploma para 'tocar' um restaurante e ter sucesso.
A decoração do antigo Babel foi mantida e permanece sem inspiração. Um bistrô sem muita identidade.
Enquanto espero a chegada do casal LRM/OG fico atento à movimentação no salão, leio o cardápio com poucas opções, checo a carta de vinhos. Peço um aperitivo, mas "não trabalhamos com destilados, só com vinhos e cervejas" - diz o atendente; em contrapartida, oferece água.
Peço a carta de vinhos e vejo anotações a lápis com bolinhas e cruzes. Curioso pergunto o motivo e recebo a resposta: "bolinhas, tem somente uma garrafa e cruzes, não tem nenhuma garrafa disponível". Em época de elaboração de cardápios no computador nada mais correto que deletar os vinhos que não existem e imprimir novamente. Os preços dos vinhos 'disponíveis' são altos e incompatíveis com os dos pratos, bastante convidativos!
O 'couvert' é servido com pães corretos, uma massinha frita (acho eu!) muito boa, manteiga e um patê de fígado de galinha muito líquido, fora dos padrões e do meu gosto, com geleia de morangos. Tiraria a geleia!
Após confusão do atendente, ou nossa, na escolha do vinho fizemos os pedidos. O cardápio é bastante enxuto com duas entradas, cinco pratos principais e duas sobremesas.
Eu e OG optamos por um pato desfiado, redução, 'aligot' de abóbora com brie e pak choi (acelga chinesa) refogado. A combinação está excelente com a acelga crocante, ou 'mi-cuit', o pato bem preparado e o 'aligot', que não era 'aligot' e, sim, um purê de abóbora bem feito. Ao final do jantar discutimos, no bom sentido, sobre o nome que deveria ser dado ao purê. Mantive a minha posição de que não era 'aligot'...
LRM pediu o 'jarret' de cordeiro, redução, purê de batata com cará, cebolas crocantes e 'coulis' de hortelã que, segundo a sua opinião, merecia um pouco mais de sal. Difícil resolução do problema pois o 'jarret' exige algum tempo para ser feito - se finaliza sem sal, é muito difícil, ou até impossível corrigir.
DJ escolheu um lagostim puxado no azeite, arroz negro e 'mirepoix' de alho poró e cenoura, que estava saboroso mas deixava a desejar no quesito "quantidade". Três lagostins por pessoa é muito pouco ...no mínimo, o dobro!
Pedimos a sobremesa e das duas no cardápio só tinha uma ... resolvemos abdicar! Segundo a chef ela preferia não ter disponível, a ter que jogar no lixo. O movimento no último mês tinha sido muito ruim e ontem surpreendeu, com cerca de trinta pessoas no jantar. Ocorre que ser dono de restaurante exige planejamento, marketing e outras obrigações - não basta ser chef de cozinha.
Com várias falhas no atendimento e uma cozinha bem feita, mas sem muita identidade, desejo que a chef Camila encontre o seu caminho e possa demonstrar todo o seu conhecimento. É um começo para quem tem ainda 26 anos e muita disposição para vencer. Foque na sua cozinha e abdique de ficar no salão, contratando profissionais bem treinados para lidar com os clientes. Seja mais ousada e procure se cercar de competência.
Voltarei!!!
Occitano - 215 Sul, Bloco A, Loja 37, tels.: 3345-6042, 9880-9008 e 9964-3516. De quinta a sábado das 19h às 23h; domingo, das 12h às 15h. Cartões: Visa e Mastercard (D e C). Ar-condicionado, acessível para pessoas com deficiência.