BUENOS AIRES - ARAMBURU RESTAURANTE

10/04/2014 18:37
Texto enviado pelo amigo gourmet e excelente jornalista Luiz Roberto Marinho.
Resolvi comemorar mais um genetlíaco (aniversário, para os comuns mortais)  em plagas argentinas, que não visitava há uns dez anos. Tivemos a alegria e a satisfação, eu e OG,  de sermos acompanhados, para a efeméride, de dois casais amigos - A e Z e Z e L. Outro grande amigo,  o dono deste blog, tinha na ocasião viagem marcada para a França com sua respectiva, DJ, e,  é claro, apesar de também convidado, nem insisti, porque  tratava-se de concorrência desleal.
Como todos os inumeráveis leitores deste blog sabem,  restaurante - e bons - é o que  não falta em Buenos Aires, nossa primeira etapa  em solo  platino, a que se seguiu Mendoza, de que falarei em outro post - se a paciência e a boa vontade dos leitores permitirem.  Há um em cada esquina, especialmente no charmoso bairro Palermo Hollywood, onde nos  quedamos.  
Depois de rigorosa seleção, nos decidimos, para um jantar comme il faut  na passagem de mais um dia em que vim estrepitosamente  ao mundo, pelo Aramburu, no bairro de  San Telmo, outro lugar simpático da capital portenha (no sotaque local, pronuncia-se arambúru). Passamos  dois dias, em Buenos Aires, insistindo, by phone e por e-mail,  por uma desistência, porque não havia reserva desde Brasília para o dia do genetlíaco.
PASO A PASO - Tive sorte - ou sequei demais - e pimba: um dia antes, houve uma desistência e lá fomos nós seis para o Aramburu. 
 Tanta teimosia  tinha seus motivos: 
1) o Aramburu foi eleito o 31º entre os 50 melhores restaurantes da América Latina em 2013  pela revista britânica The Restaurant (o primeiro é o Astrid y Gastón,  do peruano Gastón Accurio; em 2º, o DOM, do nosso Atala; o Mani é o 5º e Roberta Sudbrack, o 10º); 
2) o chef e dono, o jovem Gonzalo Aramburu, trabalhou seis anos nos Estados Unidos e Europa, inclusive com o ícone Joël Robuchon, no antigo Jamin, e o não menos famoso Martín Berasategui, na Espanha; 
3) o menu degustação, com doze pasos, como se chama a sequência de pratos na Argentina - não sei se também em outros lugares latino-americanos - é uma verdadeira reinvenção e inclui esferas, espumas e semelhanças à la Adriá.  
É uma espécie de bistrô, discreto, com uma única porta de entrada, preta, de poucos lugares,  estilo rústico, bem aconchegante. Duas moças simpáticas nos atenderam, descrevendo os pasos e, claro, os vinhos, porque fomos na opção maridaje, como eles chamam a harmonização - no caso do Aramburu, todos os vinhos nacionais, todos muito bons.  E lá fomos nós.
De entrada, espumante Baran Brut Nature 2011, que harmonizou perfeitamente com o couvert (paté de ave com baño blanco,  trufas de hongos e salsa blanca, croquetas de arroz con vitel tone) e a ensalada verde de estación. Tudo delicado e saboroso.
Zorzal Sauvigon Blanc 2013 casou  maravilhosamente com o tartare con quinua roja y huevas de codorniz, helado de mostarza, uma combinação instigante, langostino em masa Kadaif sobre piedra reflectaria, sopa de langostinos. Primogénito Chardonnay 2013, um vinho da Patagônia, desceu redondo no acompanhamento do ñoquis de azafrán y citricos, calamares y algas fritas, para mim o melhor paso do menu degustação. 
 
O vinho tinto chegou, finalmente, para acompanhar o filet mignon, paines andinos, pure de papas, topinambur frito, o paso mais trivial da noite. Foi o Altavista Malbec 2011, melhor do que o filé. 
 
El Porvenir Torrontes Late Harvest 2012 acompanhou as sobremesas que fecharam com perfeição a gostosa noite do genetlíaco: sorbet de Campari Y naranja; bavarois de pineral, granita de naranjas, frutas rojas e helado de café, coco, granita de cardanomo, biscuit de almendras, couscous al café.
A e Z, os homens, fizeram ressalvas ao jantar, alegando que, de tão transformados, os acepipes quase não foram reconhecidos pelo paladar deles. As mulheres, OG, L e Z, mais o aniversariante,  em oposição, teceram loas às reinvenções do jovem chef argentino Gonzalo. Assim que for possível, eu e OG volveremos ao Aramburu.
 
Aramburu //  Salta 1050, San Telmo, Buenos Aires.
 
Em tempo: o restaurante está fechado para reformas até o próximo dia 14 de abril.