COPACABANA - ALGUMAS LEMBRANÇAS GASTRONÔMICAS

27/01/2013 14:40


 

Estou há muito tempo querendo escrever sobre a Copacabana que conheci nos idos dos anos 60/70 (nossa, como estou velho!), a sua gastronomia na época e eu com a minha adolescência a plena atividade.
Morei na Dias da Rocha, com Cinco de Julho, até casar! No último edifício (azul) do lado esquerdo da foto abaixo.
Começarei pela Galeria Menescal, mais precisamente pelo Baalbek que vendia quibes e esfihasdeliciosos e que eram acompanhados por Grapette - quem bebe Grapette, repete! No final da tarde o ponto era batido com os seus sabores inigualáveis e inesquecíveis.
  
 
A pizza em pedaço da Spaghetilândia, na esquina da Dias com N.S.de Copacabana, em frente ao Mercadinho Azul saciava a minha gula. Comia-se em pé mesmo, com o abundante queijo derretido que escorria pelas mãos.
No Mercadinho, ao lado do Cinema Copacabana se compravam as afamadas calças Lee/Lewis, vários tipos de macarrão que eram pesados em balanças de dois pratos e cafés, na época as marcas mais famosas eram Palheta e D'Orviliers. Podia-se tomar também os cafezinhos no balcão em xícaras tiradas diretamente da água fervente.
Atravessando a Dias da Rocha, a nossa turma se reunia todos os dias à tarde na Sapataria Polar - o Vulcabrás 752 era o sapato escolar básico. 
 
Aquilo que chamávamos de paquera se resumia a comentar as festas passadas e futuras, as "dendecas" que estávamos namorando ou íamos namorar, e sempre de olho nos lances que o DKW-Vemag propiciava, uma vez que as portas se abriam ao contrário e as mulheres, bem ou mal, tinham que abrir "um pouco" as pernas para saltarem. Na época o meu pai tinha um Aero-Willis azul ... "meu primeiro carro".
Mas, continuando ....
Quase na esquina da Constante Ramos ficava o Nova Brasília, uma lanchonete com um balcão comprido, que servia um waffle na madrugada, cheeseburgers e sanduíches diversos. O melhor para mim era o waffle com mapple e, acreditem, bacon ou presunto. Delícia!
Na quadra do cinema Metro com seu "clima de montanha", em direção à Rua Santa Clara, a Lanchonete Cirandinha era a escolhida para comemorarmos os aniversários da minha família, mas não me lembro de nada especial que comi.
Em matéria de fast-food tínhamos o Gordon (vai um Diabólico?), com o seu enorme canguru na porta e o Bob's, na Domingos Ferreira.
 

 

 
Ainda na Domingos Ferreira, a Pizzaria Caravelle era o local para comer uma pizza com a namorada, depois do cinema.
Na praia as carrocinhas do Geneal nos abasteciam com cachorros-quentes, e os famosos biscoitos Globo. 
 
Tais iguarias eram acompanhadas de mate gelado, às vezes "combinados" com suco de limão.
Um pouco mais velho, ia muito no Cervantes, na Prado Júnior, comer o excelente pernil com abacaxi, cujo sabor me lembro até hoje, acompanhado de um chopp geladíssimo.
Dos restaurantes na praia o que mais me lembro é do Mondego - muito caro à época! 
 
 
E alguns inacessíveis para mim como o Nino, A Polonesa na Hilário de Gouveia que mereceu algumas visitas para degustar o famoso Souffle de Chocolate, o Alcazar, o Caranguejo na Barata Ribeiro, A Marisqueira, a Pérgula do Copacabana Palace (Bife de Ouro), Churrascaria Palace, Adega Pérola, na Siqueira Campos - lá em cima no Bairro Peixoto, que comi uma vez testículo de galo a acompanhando uma cervejinha e o Rian, na santa Clara.
 
 
 
A Confeitaria Colombo, na Barão de Ipanema com Nossa Senhora, viciava com os seus salgadinhos no balcão - meu pai comprava sempre o vatapá no copinho de papel e levava para casa. Na parte de cima, você tinha acesso por uma escada de mármore imponente, um belíssimo restaurante para lanches e jantar.
 
Enfim, é isso que me lembro da minha amada Copacabana ...
Se você ainda aguentar, leia a crônica "Amanhecer em Copacabana", do Antonio Maria e publicada em 1959:
"Amanhece, em Copacabana, e estamos todos cansados. Todos, no mesmo banco de praia. Todos , que somos eu, meus olhos, meus braços e minhas pernas, meu pensamento e minha vontade. O coração, se não está vazio, sobra lugar que não acaba mais. Ah, que coisa insuportável, a lucidez das pessoas fatigadas! Mil vezes a obscuridade dos que amam, dos que cegam de ciúmes, dos que sentem falta e saudade. Nós somos um imenso vácuo, que o pensamento ocupa friamente. E, isso, no amanhecer de Copacabana.
As pessoas e as coisas começaram a movimentar-se. A moça feia, com o seu caniche de olhos ternos. O homem de roupão, que desce à praia e faz ginástica sueca. O bêbado, que vem caminhando com um esparadrapo na boca e a lapela suja de sangue. Automóveis, com oficiais do Exército Nacional, a caminho da batalha. Ônibus colegiais e, lá dentro, os nossos filhos, com cara de sono. O banhistagordo, de pernas brancas, vai ao mar cedinho, porque as pessoas da manhã são poucas e enfrentam, sem receios, o seu aspecto. Um automóvel deixou uma mulher à porta do prédio de apartamentos — pelo estado em que se encontra a maquillage, andou fazendo o que não devia. Os ruídos crescem e se misturam. Bondes, lotações, lambretas e, do mar, que se vinha escutando algum rumor, não se tem o que ouvir.
Enerva-me o tom de ironia que não consigo evitar nestas anotações. Em vezes outras, quando aqui estive, no lugar destas censuras, achei sempre que tudo estava lindo e não descobri os receios do homem gordo, que vem à praia de manhã cedinho. E Copacabana é a mesma. Nós é que estamos burríssimos aqui, neste banco de praia. Nós é que estamos velhíssimos, à beira-mar. Nós é que estamos sem ressonância para a beleza e perdemos o poder de descobrir o lado interessante de cada banalidade. Um homem assim não tem direito ao amanhecer de sua cidade. Deve levantar-se do banco de praia e ir-se embora, para não entediar os outros, com a descabida má-vontade dos seus ares."