RECIFE - RUI PAULA

23/12/2013 10:47

Entre compras essenciais para a noite de Natal como papel cartão, hidrocor, cd, fita crepe e gorros de papai-noel, no Shopping Rio Mar - Recife, tive duas surpresas agradáveis: a primeira foi me abastecer de queijos na Campo da Serra - Queijos Especiais, que oferece 12 tipos de queijos frescos e 21 de queijos maturados, além de manteiga, creme de leite e, até, 'frozen yogurt'. Saí de lá com uma sacola cheia de 'bries', 'camemberts', 'morbiers', 'reblochons' ... loja que vale a pena visitar!

E a segunda foi jantar no restaurante de estreia no Brasil do 'chef' português Rui Paula, uma das estrelas da gastronomia lusitana. Já tinha conhecido o DOC, na cidade de Folgosa - Douro, quando a inesquecível amiga Inês Cruz me levou para um dos melhores encontros gastronômicos em Portugal, há dois anos atrás.

A convite do empresário João Carlos Paes Mendonça, proprietário da Quinta Maria Isabel e seu vizinho no Douro, ele aceitou vir abrir a casa de 130 lugares. E não veio só: trouxe de Portugal nada menos que 10 membros de sua equipe de 50 pessoas, incluindo seu 'sous-chef' de longa convivência, Gonçalo Pinto e a simpática Mafalda que nos acolheu magnificamente; apesar de estar totalmente vazia - preço, domingo à noite, Natal (?). Não nos abatemos com o lugar vazio e resolvemos curtir um final de domingo luso-nordestino.

Começamos com um 'diverte-bocas' simples onde os mini pães e os brioches trufados, azeitonas pretas, bolinhos de bacalhau e manteiga temperada nos deram as boas-vindas.

 

De imediato escolhemos o espumante argentino Las Perdices Extra Brut, de Mendoza, 50% de Chardonnay e 50% de Chenin Blanc, criação do enólogo Carlos Muñoz. Aliás tenho que elogiar a carta de vinhos do restaurante que deveria servir de modelo para vários restaurantes: além da separação por tipo e país, são destacadas as uvas de origem, teor alcoólico, região e o nome do enólogo responsável. Primeiríssimo mundo! Com mais de 500 rótulos traz os obrigatórios dos Novo e Velho Mundos e surpresas menos óbvias, como os ótimos espumantes portugueses da região da Bairrada, além de tintos de grande concentração do Douro. Elogiável é o capítulo de vinhos a copo na carta - que vai de tintos corretos a taças de champanhes luxuosas, celebrativas (e naturalmente caras) e uma curiosidade: os preços dos nacionais se equiparam aos dos portugueses!!!

O menu é super enxuto e escolhi de entrada um carpaccio de bacalhau com suas delicadas lâminas, uma salada verde ao centro, esferificações de azeitonas reduzidas à essência, e uma farofinha crocante de broa que fizeram vibrar a minha mente de apaixonado pela gastronomia!!!

DJ escolheu um camurim (robalo) com risoto de limão muito bem apresentados num prato bifásico para comportar um risoto de um lado e o peixe do outro, desenvolvido na prestigiosa casa portuguesa Vista Alegre por ele próprio. Nota dez!

Como prato principal optei pelo polvo à lagareiro que, segundo a tradição portuguesa, deve ser cozido e, em seguida, grelhado. A expressão lagareiro designa um indivíduo que trabalha num lagar, na produção de azeite. É, então, utilizada neste contexto devido à quantidade abundante de azeite que é usada para regar o polvo, além dos alhos, cebolas, espinafres e batatas a murro. Leve, cozido à perfeição com os acompanhamentos harmonizando perfeitamente entre si. Espetáculo!

Uma pré-sobremesa de colher com uma espuma de iogurte e frutinhas vermelhas, nos prepararam para receber a sobremesa.

De sobremesa dividimos chocolate com sorvete de vinho do Porto. No meio do chocolate meio amargo se destacava um pouco de sal (flor de sal, talvez!) dando um contraste maravilhoso.

Para o Rui, acho que posso entrar na intimidade pois agora o conheço aqui no Brasil, além de Portugal, a tecnologia é meio, nunca fim. “A tecnologia e as técnicas de cocção devem estar a serviço da emoção. Na sua essência, comer é um ato de satisfação básica. Mas uma refeição deve ser mais do que isso. Deve ser uma experiência sensorial e cultural”, diz ele, repetindo uma de suas máximas gastronômicas.

Rotulado agora como um 'flying-chef', não esquece as suas raízes na cozinha da avó ou o seu trabalho em Girona com os irmãos Roca. Acrescenta ao seu currículo de proprietário dos DOC (Degustar, Ousar e Comunicar) e DOP (Degustar e Ousar no Porto), além da chefia do luxuoso e histórico Vidago Palace, esta experiência luso-nordestina.   

Como na Europa, o restaurante pernambucano de Rui Paula também oferece um menu degustação em seis etapas, com entrada fria, entrada quente, mar, intermezzo, terra, e sobremesa. Há ainda a opção de acrescentar os vinhos harmonizados pelo pernambucano (de grande segurança no que sugere às taças) Helton Silva.

A cozinha luxuosa – e familiar – de Rui Paula desembarca com fome no Brasil.

Rui Paula. Shopping Rio Mar. Av. República do Líbano, 251, Pina. Diariamente, das 12h às 15h e das 19h às 23. Fone: 3878-0000.