RIO DE JANEIRO - EL GORDO

22/07/2015 16:06

Outro dia li o episódio da expulsão dos integrantes de uma mesa no El Gordo, restaurante de Nuno e Salvador Almeida (foto Camila Maia) que saíram do Bairro Alto, em Lisboa, e se estabeleceram em Trancoso, na Bahia. Em abril, a casa chegou ao Leblon com um cardápio imenso de 90 tapas portuguesas com pitadas da cozinha espanhola.

Mas, primeiramente, o que são tapas? "Tapas, na Espanha, são aperitivos servidos em bares e restaurantes, geralmente acompanhados por uma bebida, que pode ser alcoólica ou não. Entretanto as tapas são muito mais que simples aperitivos ou petiscos, sendo elas um costume secular. Quando for à Espanha não deixe de ir de tapas ao seu fim de tarde ou nos fins de semana ou a qualquer momento mesmo.  Os espanhóis por vezes preferem tapear do que fazer suas refeições do modo “comum”. Umas das mais antigas teorias tem origem no reino de Alfonso X, El Sábio, que durante um período de enfermidade em que lhe foi receitado algumas taças de vinho, ele comia pequenos pedaços de comida entre um gole e outro para amenizar os efeitos do álcool. Das acomodações reais para as tabernas da época, o costume se formou e já não se podia mais servir somente a bebida, ela sempre vinha acompanhada de um aperitivo para “tapear” a bebedeira" (https://culturaespanhola.com.br). Existem outras versões, mas achei esta a mais coerente.

O que muita gente não sabe, ou não quer saber, é que as tapas são servidas sempre em pequenas quantidades para você ir saboreando acompanha de uma taça de vinho, ou outra bebida. Muitas críticas nas redes sociais remetem ao tamanho das porções ... lá fora, particularmente na Espanha, as pessoas saem do trabalho, dão uma paradinha num bar de tapas antes de irem para casa jantar - elas são servidas num balcão de bar com as mãos e permitem que as pessoas interajam e consumam em pé mesmo!

Então reuni a família no Rio (filhas, genros e neto + DJ) e fomos passar a limpo esse "mimimi". A decoração é constituída com o acervo pessoal dos donos com as paredes lotadas de relíquias encontradas na tradicional Feira da Ladra, em Lisboa. São posteres, recortes de  times de futebol portugueses - vale tudo! Até Vasco da Gama, Luís de Camões, Carmen Miranda e Amália Rodrigues são homenageados, não esquecendo dos tradicionais presuntos Pata Negra. Do acervo pessoal de Salvador, uma bicicleta francesa Solex e um avião de madeira estão suspensos no meio do salão e dividem espaço com outros objetos de decoração, como bonecos, um grande baleiro de vidro. Tudo despretensiosamente "organizados" pelos quatro cantos do bar, com as mesas e cadeiras de madeira vinda de Tiradentes (MG).

   

Quem comanda as panelas é o chef de cozinha Mahamad Atiqum Rahaman, de Bangladesh, que trabalha com o Nuno há 17 anos.

A carta de vinhos, com quase 200 rótulos disponíveis – entre portugueses, espanhóis e do resto do mundo – divide as atenções com uma seleção rigorosa de cervejas. As sangrias, servidas com gigantescos paus de canela vindo da Bahia, também se destacam no cardápio com versões com vinho tinto, branco, rosé e verde, além de espumantes e champagne, servidas em jarras de estilo clássico português.

A mesa foi reservada com antecedência e procuramos chegar no horário combinado para 'também não sermos expulsos'. BG/RT já estavam acomodados quando chegamos saboreando os pães do couvert, com embutidos portugueses e uma tortilha com pouco sal mas muito bem feita, e uma maionese ao alho muito boa.

E aí começa a agonia pois a dificuldade de escolher algo no extenso cardápio é enorme. Inicialmente pedimos o 'pa amb tomàquet' - pão com tomate regado com azeite fatias de presunto pata negra. Já comi melhores, mas estava bom! O nome é complicado mas nada mais é do que uma fatia de pão torrado, ou não (pagès), com o tomate esfregado podendo ser temperado com alho, sal e azeite. Acrescenta-se, então, fatias de presunto cru o transformando numa 'buschetta' diferente - os espanhóis, principalmente da Catalunha, vão me matar!

E aí cada um foi pedindo o que queria: croquetes de pato (fantásticos) com molho à parte de laranja foi o campeão de pedidas; o polvo a Galega, típico da Galícia, veio muito bem cozido e salpicado de páprica e alho; PP se aventurou na morcela da Beira Alta e não se arrependeu; o bolinho de bacalhau acabou ficando num lugar comum; meu neto LGP pediu os minis hambúrgueres (2) com molhos de cogumelos, mas deixou de lado - comi e estavam muito saborosos; pasteizinhos de massa filo com geleia de pimenta.

    

Se depois de "tapear" você quiser pequenas porções com mais sustância há várias opções de cordeiro, bacalhau, pato, carnes bovinas e várias versões de arroz.

Para sobremesa não escolhemos nenhuma das três opções do cardápio: pudim de nata com morango; leite creme, ou mousse de chocolate com cobertura de avelã. Não havia mais lugar ...

O serviço é bom sem ser excelente. Os donos não nos incomodaram e ajudavam os garçons a servirem as outras mesas. Achei que valeu a visita.

El Gordo – Av. General San Martin 1219 – Leblon. De 3ª a sábado, das 17h às 2h. Domingo das 13h às 23h. Tel.: 21 3079-9581.