RIO - ESCONDIDINHO

20/08/2013 16:03

No Escondidinho, localizado no Beco dos Barbeiros, perto da Praça XV, comem-se pratos tradicionais das culinárias regionais brasileira e portuguesa. Um deles chama a atenção por ser tão inusitado: a famosa cabeça de peixe, utilizando o cherne ou o badejo.

Mas antes um pouquinho de história: a estreita passagem entre a rua Primeiro de Março e a rua do Carmo, foi construída no século XVIII e era o local preferido para a moradia de barbeiros; tais barbeiros eram homens de sete instrumentos, na verdadeira acepção da palavra, porque, além da tesoura e da navalha, ainda clinicavam no campo da odontologia e na da mais rústica medicina. Com seus grossos boticões arrancavam dentes a frio, num tempo em que a anestesia estava longe de ser descoberta, e substituíam os poucos médicos existentes na arte de sangrar os doentes (abusava-se então das sangrias como hoje das injeções), ou de aplicar-lhes sanguessugas, expostas nas próprias barbearias em redomas de vidro, vivas e famintas... hehehehehe!

Voltando ao Escondidinho: aberto desde 1947, por Dona Lurdes Felgueiras, mineira e casada com um português ocupa um discreto sobrado e serve refeições fartas, muitas delas alimentam bem três pessoas. O ápice entre os pratos é sem dúvida a costela bovina, que dissolve na boca e pode chegar à mesa com farofa de ovos ou com agrião e aipim frito na manteiga. O segredo da receita está no tempo do cozimento da carne: cerca de cinco horas. Ela posou para uma foto, apesar de não ter sido degustada dessa vez.

Mesmo com a morte da Dona Lurdes, em 2001, a cozinha conseguiu preservar o tempero caseiro e manter a qualidade do cardápio. O sobrinho do seu marido (que está com 90 anos e me esqueci do nome), Sr. Abílio (português), vem, desde então 'tocando' o restaurante numa boa - mas somente nos dias úteis, de 11 às 16 horas, com um sorriso de vencedor!

As panelas são pilotadas por este quarteto de respeito, sob a liderança do chef José Carlos (o primeiro à direita).

Começamos com uns pasteizinhos de queijo e croquetes ótimos de carne.

E eis que chega o grande momento de provar esta comida dos deuses. Depois de mostrar o prato para os outros frequentadores, o também simpático Aldair (garçom) estaciona o prato na mesa para registros fotográficos.

E vai destrinchando com uma habilidade fora do comum, procurando em cada recôndito da cabeça um pedacinho saboroso de carne ... e aí está o prato servido!

Já o pirão feito com o caldo do cozimento vem numa porção à parte, mas incluída no preço. São tantos coadjuvantes que fazem a delícia do prato que ficaria horas descrevendo o papel de cada um.

Agora só basta provar e comer até dizer chega, e depois rastejar pelo lendário Beco dos Barbeiros, fugindo dos fantasmas das ancestrais sanguessugas!!!

E assim foi mais um almoço no meu Rio, que amo de paixão, com amigos de longa data e especiais: GS, MA e JS. E já marcamos para comer a costela!!!

Restaurante Escondidinho - Beco dos Barbeiros, 12 (Lojas A e B), Centro, Rio de Janeiro - 2242-2234 (82 lugares). De segunda a sexta, das 11 às 16hs.